Em um dos primeiros capítulos do livro “Moby Dick”, Ishmael procura o capitão Peleg para ser um dos tripulantes na expedição do navio Pequod.
Seu objetivo com aquela viagem era pescar baleias, mas o principal, conhecer o mundo. O capitão, ao saber disso, responde:
“Muito bem! Então seu objetivo não é só pescar baleias, você também deseja conhecer o mundo. Aproxima-te e olhe por cima da proa. O que vê lá?”
Ishmael fica sem graça.
Faz o que o capitão pediu. Sobe e volta à sua posição inicial. O capitão pergunta:
“O que você viu?”
“Pouca coisa, capitão. Nada além de água num horizonte considerável e ao que tudo indica, vai chover,” ele respondeu.
O capitão retruca:
“Pois bem, o que entendes por conhecer o mundo? Queres viajar até Cabo Horn para ver o mundo mais ainda?
Não vês o mundo de onde estás?”
Ishmael fica desconcertado e não sabe o que responder.
O capitão decide aceitá-lo na tripulação e a história continua...
Você percebeu o mesmo que eu?
O capitão quis mostrar para o rapaz que ele não precisava viajar para ver o mundo.
Ele podia fazer isso ali mesmo onde estavam. Bastava olhar ao seu redor de outra maneira…
Tudo se trata de uma questão de perspectiva. Entende?
Muitos de nós trabalhamos pensando nas férias e nos finais de semana.
“Não vejo a hora de viajar para XXX lugar. Lá eu vou ser feliz…”
“Segunda-feira, não vejo a hora de chegar sexta…”
E por aí vai…
De fato, a rotina do trabalhador brasileiro é cansativa.
Acordar às 05:00 para pegar um metrô lotado às 06:00 da manhã é chato.
Irrita.
O cansaço triplica se adicionarmos os estudos.
Acordar cedo. Dormir tarde. Pegar condução lotada. Trabalho. Faculdade.
Vivi muitos anos da minha vida assim (e ainda vivo).
O que me ajudou a superar (ou diminuir) esse cansaço? A mudança de perspectiva.
Nasci em uma família humilde e fui criado em um bairro pobre do RJ.
Isso me deu gás.
Todos os dias me lembro do porquê estar passando por toda essa rotina desgastante.
“Minha mãe e meu pai não tiveram essa mesma oportunidade. Quantos amigos não queriam estar trabalhando e fazendo faculdade também. Com o fruto do meu trabalho e estudo, hoje posso proporcionar coisas que antes eram difíceis para eles… ”
Quando você começa a se apegar a estes tipos de pensamentos, sem perceber, começa a ver as coisas de outra maneira.
Ao invés de só criticar, passa a contemplar o processo. Encarar todas essas dificuldades de outra maneira.
Acredito que essa mudança de perspectiva muda tudo.
Você passa a entender o presente e a oportunidade de estar vivenciando certos momentos (por mais cansativos que sejam).
Quando você não nasce herdeiro, a vida é difícil mesmo, não existe outra saída a não ser lutar pelo o que deseja. Cabe a você decidir como vai passar pela prova:
Esbravejando, culpando o mundo e esperando alguns momentos para ser feliz ou curtindo todo o processo.
Você não precisa viajar para ser feliz.
Não precisa estar em outros lugares para sentir felicidade.
Enquanto não for feliz consigo mesmo, não encontrará a felicidade em lugar nenhum.
Como Marco Aurélio diz em “Meditações”:
“As pessoas procuram refúgio no campo, junto ao mar ou nas montanhas. Tu também estás muito habituado a desejar isso.
Mas essa é inteiramente a característica de uma pessoa vulgar, quando podes encontrar esse refúgio em ti mesmo, a qualquer momento. Pois em lugar nenhum podes encontrar um refúgio mais calmo que em tua própria alma — especialmente se ela está repleta de tranquilidade, o que eu digo que nada mais é que estar bem ordenado. Desfruta mais vezes desse refúgio e renova-te.”
Quando sabemos quem somos e o que queremos, não precisamos desejar o futuro para sermos felizes.
O melhor refúgio é aqui, não lá.
Quando as coisas estiverem difíceis, tente isso:
Mude sua perspectiva.
Até a próxima,
Kayque Viana
P.s: Moby Dick é um dos melhores livros que já li em toda minha vida. Vou deixar abaixo algumas frases que destaquei enquanto lia:
“Neste mundo, companheiros de bordo, o Pecado que pagar sua passagem pode viajar tranquilamente e sem passaporte; ao passo que a Virtude, se for pobre, é detida em todas as fronteiras”;
“Não sei por quê; mas não há lugar mais propício para confidências entre amigos do que uma cama. Marido e mulher, dizem, ali abrem até o fundo da alma um para o outro; e alguns casais idoso muitas vezes ficam deitados conversando sobre os velhos tempos até o amanhecer”;
“Neste mundo, companheiros de bordo, o Pecado que pagar sua passagem pode viajar tranquilamente e sem passaporte; ao passo que a Virtude, se for pobre, é detida em todas as fronteiras”
“…Em vida poucos deles teriam ajudado a baleia, creio eu, se por acaso ela tivesse precisado; mas no banquete de seu funeral todos a espreitam religiosamente.”
“Apesar de toda a sua idade, apesar de sua única barbatana e dos seus olhos cegos, ela devia morrer aquela morte horrível, assassinada para iluminar as núpcias alegres e outras festividades dos homens, e também para iluminar as igrejas solenes que pregam que todos devem ser incondicionalmente inofensivos uns para os outros.”
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